Calógeras

áridas. Mas é coisa que me não repele e que nunca me inspiraria abandonar o estudo. Dizer que há coisa mais importante, como o amigo por pilhéria escreveu que poderia parecer à gente frívola, não me passaria pelo espírito: vita aeterna, agitur. Faz muitos anos, li, na biografia de Miguel Servet, a vítima de Calvino, um trecho que me calou na mente. Salvo erro de memória, ia ele, estudante paupérrimo e ne payant pas de mine, rumo de Bolonha ou de Pádua a iniciar ou aperfeiçoar seus estudos médicos. Próximo à fronteira do Piemonte, e já em território deste, caiu gravemente enfermo. Foi chamado um facultativo, e depois outro, a fim de conferenciarem, tão sério pareceu o caso. Vendo o pobre doente, miserável no aspecto, tomando-o por mendigo ou pouco mais, e supondo-o alheio a qualquer latinidade, propôs um dos cientistas ao colega — faciamus experimentum in anima vili. Indignado, ergueu-se Servet da enxerga e fulminou: vilem appellas animam pro qua Christus non dedignatus est mori. E era apenas da vida material que se tratava...

Imagine então o que, em minha alma, se passa dessa coisa superior que é a salvação, a vida

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