Calógeras

lei divina, se bem que se dissesse ateu. Será ele um desses disciples qui s'ignorent? A viúva do Martim consultou-me sobre se, sabida como era a falta de crenças do marido, devia mandar rezar missa por sua alma. Respondi logo que sim, porque ele era bom demais para que, no fundo, fosse estranho a Deus. Há em Edmond Rostand, na sua obra-prima La Samaritaine, um verso que põe na boca de Cristo e que sempre me comoveu fundamente: Je suis un peu au fond de tous les mots d'amour. Assim também nas ações boas: de nenhuma delas, consciente ou não, se acha Deus ausente. E é por isso que, pelo Martim, invoco e imploro sempre a infinita e paternal misericórdia divina: non secundum magnam iniquitatem meam, sed secundum magnam misericordiam tuam.

Suas observações sobre a argumentação histórica, tradicional, é justa, assim como seu non plus quam oportet. Também partilho o seu dito sobre panem nostrum quotidianum. E a esse respeito, confesso-lhe quanto compreendo melhor o trecho correspondente da oratio montana — panem nostrum suprasubstantialem na versão de Mateus.

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