Peter Wilhelm Lund no Brasil - Problemas de paleontologia

que o atribui ao suposto costume desse povo antigo, de andar roendo habitualmente raízes fibrosas. Porém, com todo o respeito devido a tão ilustre nome, não posso dissimular as minhas dúvidas; em todo o caso não é aplicável esta hipótese ao caso atual. Em verdade parece pouco provável que esses antigos habitantes do Brasil seguissem um modo de vida muito diferente do que seguem hoje os Gentios, visto serem as condições da sua existência as mesmas. Ora, estes, além do que rende a cabeça, a fonte principal da sua subsistência, não deixam também de aproveitar as raízes, com que por acaso encontram; e, contudo, não mostram a mencionada anomalia na forma dos dentes. Além disto, as raízes alimentares que produz este país, pertencentes principalmente às famílias das Smilaceas e Aroideas, são em regra suculentas e macias, não podendo, portanto, de modo nenhum, produzir um efeito semelhante nos dentes.

Mais plausível pareceria à primeira vista a explicação deste fenômeno, pelo uso conhecido entre algumas tribos de índios, de comer terra. Porém, esta hipótese também falha na primeira prova a que pode ser submetida. Entre todas as nações modernas a mais célebre desta espécie de gulodice é a dos Ottomacos, entrando, o uso de terra em tal proporção na sua comida, que vem a formar uma parte essencial da subsistência desse povo; e, contudo, não se observa neles a mencionada deformidade nos dentes, ao menos o ilustre viajante, que foi visitá-las, o Barão de Humboldt, não faz menção nenhuma disto, e não é presumível que escapasse à atenção de um observador tão agudo um fenômeno tão visível à primeira vista.

Podia-se ainda recorrer a um outro uso, observado entre várias tribos de índios, o de mastigar glóbulos

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