Liberdade é o que havia nos "ominosos" primeiros tempos da Inquisição. "Tão amplas e úteis liberdades disfrutava assim a gente dos ofícios, que El-Rei Dom Manuel, quando justamente irado soube do alevanto que se fez em Lisbôa contra os cristãos-novos (bárbara matança e roubo de marujos, vilões e estrangeiros) logo, para maior castigo e exemplo, determinou, como refere Damião de Góis na Crónica desse felicissimo Rei, "que não haja mais na dita cidade eleição dos 24 dos mesteres, nem isso mesmo os 4 procuradores deles, que na Camara da dita cidade, e os não haja mais nem estem na dita camara sem embargo de quaesquer privilegios, ou sentença que tenham para o poderem fazer.
Pouco durou, porém, o necessário castigo. Regressa o Rei a Lisbôa, e o feitiço dormente da cidade o enleia e lhe abrada a bôa cólera. Não escapou a Garcia de Rezende, ao pôr em lembrança as coisas do seu tempo, o fácil perdão do Rei. E a saborosa trova recorda":
Vi que em Lisboa se alçaram
Povo baixo e vilãos
Contra os novos cristãos;
Mais de quatro mil mataram
Dos que houveram às mãos.
Uns deles vivos queimaram,
Meninos despedaçaram,
Fizeram grandes cruezas,
Grandes roubos e vilezas
Em todos quantos acharam.
El Rey teve tanto a mal