Ensaios de etnologia brasileira

proveniente da mesma unidade cultural que o elemento trazido por ele. A predileção e os dotes pessoais têm papel decisivo em ambos os casos. O chefe principal dos Tapirapé favorece quase tudo que vem dos brancos, e enquanto ele tiver o poder, a tribo estará, até certo ponto, disposta à assimilação. Ele foi, por exemplo, a causa de que, há pouco, os Tapirapé cultivassem a cana-de-açúcar e cantassem melodias cristãs. O segundo chefe é exatamente o contrário do principal e seu rival encarniçado. Odeia os estrangeiros, é conservador, não planta cana-de-açúcar e só canta as suas canções. Já é quase tão poderoso como o chefe principal. Quando, um dia, tiver o governo da tribo não será, provavelmente, causa de mais mudanças de cultura vindas de "fora". Quando os Tapirapé ainda moravam em duas aldeias apresentavam, graças à diferença dos seus indivíduos condutores, uma aldeia xenófoba e mais rica em tradições e a outra, a do atual chefe principal, acessível a tudo quanto vinha dos brancos e já empobrecida na cultura dos antepassados. Igualmente, as hordas ou as populações de aldeias dos Kaingang, Bororo e Karajá comportavam-se e comportam-se, segundo seus indivíduos condutores, de maneiras diferentes em relação aos brancos e a seus elementos culturais. Com isso, naturalmente, acontece também que um certo elemento cultural é desejado por um desses indivíduos e recusado por um outro, enquanto um segundo elemento cultural terá, talvez, sorte oposta.

As diferenças são, talvez, maiores ainda entre os indivíduos condutores procedentes da mesma unidade cultural

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