Uma tarde, estava Dona Mariana descansando dos calores do estio, à sombra de uma das árvores de sua chácara do Engenho Novo, quando lhe apareceu à cancela o vulto esguio do Monarca, montado num cavalo baio. Dom Pedro I costumava, uma vez que outra, em seus passeios pelos bairros do Rio, visitar a chácara de Dona Mariana, onde lhe apeteciam, sobretudo, as águas frescas de um riacho que por lá corria. Certa vez teve a fantasia de plantar-lhe ao lado uma mangueira.
A visita imperial, portanto, nada tinha em si mesma de extraordinária. A surpresa do dia foi o convite, que logo lhe fez o Soberano, para Dona Mariana servir como aia do filho que ele esperava lhe nascesse daí a um mês. De fato, era sabido que a imperatriz Dona Leopoldina estava em adiantado estado de gravidez, e todos no Paço aguardavam ansiosos o nascimento dessa criança, que seria talvez o herdeiro do trono imperial.
Dona Mariana era então uma Senhora de seus 46 anos de idade. Além do filho rapaz e da filha moça, tinha ainda a educar uma outra filha, menina de oito anos de idade. Ora, o cargo de aia de um filho do Monarca, e com maior razão do herdeiro da Coroa, se a criança esperada fosse um varão, além da tremenda responsabilidade moral, trazia-lhe os mais absorventes encargos. Obrigá-la-ia a entregar-se inteiramente aos deveres do Paço. Além disso, a vida que se levava no Palácio imperial, apesar de nada ter de aparatosa, e do razoável ordenado do emprego que lhe ofereciam, era