homilias. Proscrever a própria voz da consciência, se ainda lhe resta algum sussurro, porque não basta; e a humilhamos, desatendendo-a. O único jeito é aproveitar um lampejo fugaz de bom senso, e por ele criar a situação que agirá sobre o paciente, mau grado seu. Esse é o grande remédio enquanto aguardamos o lerdo passo da educação. Exemplifiquemos com um caso mais adequado ao assunto deste volume.

Toda a gente mais ou menos esclarecida, no Brasil, reconhece, na falta de continuidade de ação, o maior achaque da administração pública. O ministro não se apossa de uma pasta qualquer, sem cuidar logo de mudar tudo de lugar, destruir e inventar. Peca, como pecaria o próprio frade sincero na zona perigosa. Ninguém discute o delito. O ministro em pessoa, cá fora, é o primeiro a insurgir-se contra a mania. Pois bem, a única providência para prevenir esse congresso carnal, essa junção trop intime — de ministro e pasta, nocivíssima, porque enche o país de filhos naturais quase natimortos (muitos mal alcançam o próprio clássico quadriênio), será, evidentemente, curialmente — a proibição do contato. O ministro poderá gerir a pasta como político (outro mal curável quando deturpada a função, hélas, tão bastas vezes), como administrador geral, enfim, mas nunca tocar ou sequer roçar no maquinismo sob sua guarda temporária. A proibição será, naturalmente, indireta e automática, implícita e não explícita. Cada serviço técnico (é mais deles que tratamos), terá o seu "Committee" ou o seu "Board of Trustees", que velará, de alto, a organização sob sua tutela. A separação de corpos entre ministros adventícios) e instituições científicas oficiais permanentes — é absolutamente indispensável. Reduziremos, destarte, à metade, os sinistros, deixando àquelas altas autoridades somente o conúbio burocrático. Bem sabemos que o "Committee" ou o "Board of Trustees" será brasileiro, e terá, a princípio, parentesco remoto com a entidade padrão, mas, com ele, o principal será logrado — o direito de viver um