Meteorologia Brasileira

pouco mais ao organismo técnico, e sem replantios ou mutilações...

O vício, que acabamos de apontar, provém de mal profundo — enraizado, provavelmente, consoante o pendismo moderno, na constelação endocrínica alterada do povo brasileiro. Por isso é que ainda há pouco classificamos o mal como uma disfunção. A desarmonia glandular está perfeitamente caracterizada na incontinência paroleira — fônica e gráfica. Falamos e escrevemos em excesso. Adoramos o tribuno e o escritor, o som e o impresso, a alocução e o relatório. O ministro reforma porque está certo da plateia. Ele não espera nem pode esperar resultados práticos, positivos, porque amanhã vem tudo abaixo. Ele sabe disso, mas não se detém. O programa de receber a máquina, sem lhe alterar as peças — e fazê-la funcionar, "de fato", durante quatro anos, não sorri, porque parece não agradar aos espectadores. E assim marchamos... discursando e escrevendo. Da Constituinte ao Café, da Associação ao Lar, intramuros ou em plena rua, a palavra é o abre sésamo milagroso. E assim continuará ad infinitum, se não tomarmos uma providência, porque, em face das colheitas ínfimas ou de nenhuma colheita, os agentes retomam a palavra...

Se assim é, se confessamos, sinceramente, essa calamidade — pública e privada — nada adianta apostrofá-la. Enquanto não se restabelece o equilíbrio glandular, volvamos à farmacopeia fradesca. Como? Vedando o comércio sexual entre Demóstenes e atenienses. Precisamos converter numa realidade salvadora a verba volant, a qual, entre nós, não voa tal: encaminha-se diretamente a ouvidos estáticos. O arroubo não está unicamente na faringe, mas nos três ou quatro "ossinhos" da maioria dos brasileiros... De ponta a ponta do país, o verbo, desgraçadamente, enleia e comanda. O pecado carnal é flagrante até ao espasmo e à inconsciência. Disse Martins de Almeida, em um desses livrinhos "pessimistas", que aborrecem a alguns porque nos

Meteorologia Brasileira - Página 14 - Thumb Visualização
Formato
Texto