Os admiradores da pena que traçou o À margem da História prosternem-se ante os segredos do íntimo e do puro. Foi ele mesmo que escreveu estas palavras brandas e confitentes, entremostrando na forma impiedosa do porfiador sem recuos, o ser de nobre inteligência e de límpida bondade que nele se abrigava: "Minutos existem mesmo em que o abomino e chego a ter-lhe ódio — esses sentimentos porém — como felizmente todos os sentimentos maus em mim (que são inúmeros porém efêmeros) desaparecem facilmente." O seu talento foi muito e o coração demais. Poder-lhe-íamos também aplicar a fórmula lapidária de outro idólatra: "Gênio que era um santo."
Compulsemos piedosamente algumas de suas cartas e, a exemplo de Oliveira Lima, soletremos esses trechos confessórios de vida confiada e limpa. São páginas à vontade, das mais brilhantes e sinceras. Não dizem tudo, porém. Há dores e náuseas que ele guardará consigo para sempre. Nelas imprimem-se rastejos no desconforto da indiferença, debates em situação subalterna e adscritícia, anseios nas amarguras da luta, desalentos repentinos, arrebatamentos desconexos e confrangimentos na aparência pueris... Pouco a pouco iremos entreabrindo as flores desse jardim de emoções,