reparou nas perspectivas de glória e nos prêmios da Igreja que havia em façanhas largas e reluzentes, do tipo das cruzadas contra os infiéis.
Amadureceu o plano de arremessar "lanças em África", pondo em Marrocos o pé conquistador. Assim castigaria os inimigos da cristandade, de quem, tantos séculos, receberam agravos e ameaças os lusitanos; não permitiria que Castela se expandisse sem concorrência pelo litoral bérbere, já investido, aqui e ali, por suas naves católicas; e dilataria os horizontes do comércio português, abrindo-lhe, talvez, as portas do outro hemisfério.
Toda guerra feita a muçulmanos era justa e festejada: atirou-se uma elite de cavaleiros portugueses sobre Ceuta, e aí plantou a bandeira das quinas, como em ponto de partida para mais extensas proezas.
Em 1415 abandonou Portugal o amargurado destino de reino angusto que zelava, noite e dia, pelas fronteiras em perigo: e mete-se a penetrar os países remotos.
Ceuta é começo de série. A África, parecendo uma represália - contra os mouros odiados - é um trajeto. O essencial foi quebrar o enleio da terra firme. A primeira expedição marítima suscitou a grande aventura: dir-se-ia que a dinastia de Aviz achara o seu aliado verdadeiro, que era o mar alto.
D. João I deu o passo inicial: seus filhos fariam o resto.
Ceuta corresponde a um transbordamento.
As energias portuguesas transferem-se do seu cenário ibérico para o continente do mistério, das dúvidas geográficas, das raças diferentes: alvoroçam-se no itinerário dos descobrimentos que prometiam fortuna fácil, populações catequizadas para o seio da Igreja, prodigiosos lucros espirituais e materiais. Veneza insinuara-se