Equador um clima hospitaleiro, onde Virgílio, como Platão, acusara sol e calor impróprios à vida humana (1)Nota do Autor. Na escola de Sagres não se liam mais os latinos, senão os árabes, e os cosmógrafos portugueses tinham organizado os mapas mais exatos do seu tempo. Conheciam tudo o que se acrescentara, no mundo, às obras de Strabão e Ptolomeu, e acompanhavam, num estudo direto, as ideias dos genoveses, dos venezianos e dos catalães acerca dos "países da especiaria". Quase a súbitas, como que se transformara o reino numa vasta empresa mercantil. Era uma cruzada de novo gênero, embora de fundo idêntico, se a grande curiosidade do ignoto nascia da vontade de possuí-lo para a fé, estendendo a religião de Cristo aos povos pagãos. Por isso Pedr'Alvares inqueriu da terra, procurou uma abrigada na costa, distribuiu aos índios pequenos presentes, e depois de dez dias de demora continuou viagem.
É surpreendente a naturalidade com que o escrivão da frota, Pero Vaz de Caminha, participou ao rei o descobrimento: não tem uma palavra sequer de espanto, a resplandecer o regozijo pela inesperada fortuna. "E assim seguimos por este mar de longo até terça-feira de oitavas de páscoa, que foram 21 dias de abril, que topamos alguns sinais de terra..." Também não levava a armada pedra de padrão, com que costumavam os portugueses assinalar as suas descobertas: fez-se uma cruz tosca "com as armas e divisa de Vossa Alteza que lhe primeiro pregaram..." O escrivão resumia as impressões iniciais do Brasil. A terra era de tal modo graciosa que daria