Para fazer ideia de nossa alegria, fora mister que o leitor já se tivesse visto transviado. A mais suave composição de Bellini não teria para nós tanta harmonia, como o reboar grave da descarga que nos indicava o pouso. Chegamos a ele, e, com a nossa chegada, sossegou-se o alarme que a ausência havia despertado, e, bem depressa, os comentários e as anedotas acerca da perdida desmancharam a impressão de tristeza que ela em nós havia deixado.
Eu e alguns companheiros dormimos ao relento. O cansaço era grande e as piores camas seriam para nós tão boas como a otomana de um sultão.
Era fantástico o aspecto de nosso pouso: os fogos acesos aqui e ali desenhavam as formas gigantescas dos buritis e davam um aspecto selvagem ao vulto dos soldados que passavam por diante deles; as camas eram redes amarradas pelos galhos das árvores, e em grupos curiosos. Só eu gozava do privilégio de uma maca. Nosso teto tem sido o azul do firmamento, belo e cheio desse encanto melancólico que lhe costuma dar a lua, sobretudo no meio de campinas vastas e batidas, como eram essas em que nos achávarnos.
3º — Terceiro dia — Vamos ao ribeirão Manoel Alves — O Ferreiro — Aspedo do terreno — Sítio de Manoel Alves.
No dia seguinte, saímos às 7h da manhã e pousamos às 5h da tarde.
Atravessamos o rio Ferreiro, ou, para melhor dizer, seu leito, visto que ele está inteiramente seco, notando-se apenas, de distância em distância, alguns poços. A caixa do rio é grande; suas águas rolam sobre areia: não tem pedras. É este o mesmo em cuja barra embarcou, no século passado, o corajoso navegante goiano Thomaz de Souza Villa-Real, deixando-nos um precioso