Viagem ao Araguaia

transviou-se de nós, a ponto de sermos forçados a chegar ao pouso já noite fechada.

Este foi, contudo, para mim um dos mais curiosos dias de viagem: ao sair do arraial, rumo sul, atravessamos constantes matas, que bordejam alguns arroios de agua cristalina, entre os quais figuram o Vermelho, o Cadoz e o córrego do Feixo, confluentes todos do rio do Peixe. As margens do último destes córregos oferecem paisagens de uma grande beleza. No lugar chamado Feixo, o grandioso da natureza virgem toca ao sublime; duas enormes massas de rochedo elevam-se uma em frente da outra, deixando entre si um canal estreito, de cerca de duas braças e meia, que serve de leito à estrada e sobre o qual desce em cascata o córrego do Feixo. A cabeça vetusta destas pedras, as escavas que nelas existem, o sombrio de sua cor, a melancolia do sítio fazem recordar esses castelos feudais, que vimos em imaginação, quando, nos primeiros anos da vida, nosso espírito, cheio ainda de esperanças e crenças, percorre as cenas encantadas dos romances de cavalaria.

A alma reconcentrada, eu perguntei a mim mesmo se a felicidade não devia existir ali, no meio daquelas cenas grandiosas da natureza, daquela paz imponente, tão diversa do ruído inquieto e buliçoso das grandes cidades.

No alto daquelas penhas, o fusco abutre, o gavião feroz, a andorinha ligeira e a soturna coruja fazem suas habitações.

Lá nunca há de chegar o pé humano; mas nosso poderio manifesta-se ainda aí; apesar dessas brenhas inacessíveis, a ave selvagem pode ver de repente interrompido seu voo pela bala certeira do caçador sertanejo.

As margens deste córrego e, especialmente, as que ficam juntas a esses penedos, são uma das mais ricas lavras