Viagem ao Araguaia

suficiente para o jantar de toda nossa comitiva e para o sustento do dia seguinte.

Nosso jantar foi na praia e preparado à moda dos índios, o que nos foi fácil, por trazermos, em nossa comitiva, dois da nação Xavante. A novidade da cena impressionou-me, e aqui a descrevo, para dar ao leitor uma ideia destas cousas.

Prepara-se o peixe assado ou cozido. O assado obtém-se por meio de um girau, construído por cima das brasas; os índios dão-lhe o nome de garajau, e serve, não só para assar o peixe, como qualquer espécie de carne. O cozido obtém-se fazendo um fosso na areia; deita-se o peixe envolvido em folhas, cobre-se de novo com a mesma areia e ateia-se o fogo por cima, de modo que se opera cocção por meio do vapor resultante da umidade do peixe, que fica perfeitamente perfumado com os adubos que o traspassam. Com esta simples cozinha, por mesa e toalha o leito frio da areia, tivemos um magnífico jantar, tanto mais agradável quanto o sol, que pendia já para o Ocidente, dava ao céu achatado um colorido de verde-claro morrendo em roxo, que filtrava pelo espírito uma sensação agradável e melancólica, de indefinível saudade.

§ 2º — Quinto dia — Transviamo-nos da tropa e só a encontramos por noite fechada — Belezas naturais da lavra do Feixo — Minas de ouro do Feixo, seu assinalamento, sua riqueza — Minas no lugar denominado "José Francisco" — Minas do Coçú — Exploração nas grutas da serra — Quantidade prodigiosa de abelhas, suas espécies — Aspecto interior da principal das grutas; uma mina de salitre e de pedra de cal — Aspecto selvagem de nosso pouso e cautelas que tomamos, pelo receio dos índios.

No dia seguinte (30 de setembro), saímos ao meio-dia. Nossa tropa, carregada de roupa, barracas e alimentos,