Há de se ir pelo rio Grande abaixo, até a barra do Paraná. No Rio Grande, há a nação Caraiá, e, do Rio Grande para a da língua geral, há só meio-dia de viagem por terra, e dali se marcará rumo direito por serra, entre dous rios: um chama-se Amboura, fica para a direita; outro fica para a esquerda, chama-se Paraná, e vai-se por entre os dous rios até as cabeceiras, e sobe-se um morro e desce-se ao Araés, onde há ouro, e são seis dias de viagem.
Quando os meus parentes iam dar no gentio Araés, então nós éramos rapazes, e nos contavam que havia muito ouro e que os enfeites com que se preparavam e adornavam as crianças eram folhetazinhas de ouro furadas, e observando que todas as bandeiras que têm saído de Goiás em procura desse lugar têm ido fora de rumo, asseguramos que, indo por guia, sem dúvida alguma havemos de chegar à dita paragem.
Também o defunto João Leme foi ao meio do alojamento, antes de virmos para o poder dos brancos, a fim de lhes mostrarmos onde havia ouro, e lhe dissemos que daí a seis dias de viagem, que é no Araés, havia muito cabedal; mas, como o seu sentido foi aprisionar-nos, como fez na mesma ocasião que nos trouxe presos, por isso não sucedeu o bom intento, e também por causa de sua morte. À vista do ponderado a v. exc. e para o bom êxito desta minha diligência, espero que v. exc., informado por pessoas inteligentes desta vila, haja de me conceder os socorros conducentes a tão boa expedição. E por esta graça não cessarei de implorar aos céus as boss felicidades de v. exc. e de seu governo. De v. exc. humilde e obediente súdito — IGNACIO XAVIER. Cuiabá, 15 de novembro de 1780.