Viagem ao Araguaia

PARTICIPAÇÃO DE BARTHOLOMEU BUENO AO CAPITÃO-GENERAL DE GOIÁS TRISTÃO DA CUNHA

Ilmo. exmo. sr.

Meu senhor. Participou-me Alexandre Bueno que v. exc. me honrava em mandar remetesse o roteiro dos Martírios, que existe na capital de v. exc., cujo guião principia do rio Vermelho desta comarca de Goiás, que, por ser tão dilatada jornada, cercada de perigos e de inundações do rio Araguaia, consta pela antiguidade terem transitado duas bandeiras mui populosas, e delas nunca se escutaram mais notícias, supondo-se que tenham morrido afogados nos alagadiços do Araguaia. O roteiro do meu avô conta que os Martírios estão na gentilidade Bacuiriz, e porque faleceu nesta casa um velho verdadeiro, por nome Gaspar Leme, o qual dizia que, na companhia de um tal fulano preto, fora em uma bandeira aprisionar o referido gentio, e mostrava um braço aleijado de uma seta dessa gentilidade. Indaguei, então, dele o lugar em que essa nação habitava, e disse-me que em um chapadão destilava as cabeceiras do rio Cuiabá, e para o lado contrário erinavam as cabeceiras, digo, os travesseiros do rio habitado pelos Bacuirizes. Se essa gentilidade se estende nesse único rio, aí permanecem os Martírios em pedra jaspetão burnida, que se miram nele os objetos, como um espelho, cuja altura a prumo é a de dous pinheiros e o comprimento que se estende pela ribanceira do rio é de uma légua.

No teto, então, estão pintados os Martírios, de carmim, cor da mesma pedra, aonde se não pode chegar, por formar um torrão muito a prumo.

O rio banha o paredão, onde estão esculpidos os Martírios. De fronte deles existe uma bola, como de jogar, maciça, de ouro, aonde alcançou uma da comitiva de meu