aproveitar convenientemente. Para deixar uma avultada renda annual e proseguir um pensamento que as vicissitudes administrativas tornarão tão precario, devia eu ser impellido por algum motivo mais nobre que o lucro material.
Muitos são considerados benemeritos, que nem prescindirão de seus interesses privados, nem renunciarão a uma profissão abastada. Entretanto, não lhes faltam honras e gratidão! Ninguem, atravez dos serviços prestados, procura descobrir um motivo interesseiro.
VII
Responderei agora ao ponto em que o meu privilegio foi pelo illustre ex-presidente da estrada de D. Pedro II taxado de erro e estorvo ao melhoramento material do paiz.
Quem tiver acompanhado a minha exposição terá já aquilatado devidamente dessa sem razão. Se em 1844 o agente do governo em Londres não tivesse, por insignificantes formalidades, destruido a minha obra da organização da companhia, teria o Brasil a estrada de ferro dez annos antes, e gratuitamente.
A estrada de D. Pedro II custou ao governo 10,628:843$021 de garantias de juros; paralysou capitaes brasileiros que teriam outro emprego, se a construcção fosse por conta de estrangeiros; montou em menos do que devia montar a outra cujo capital primitivo era de tres milhões esterlinos; finalmente, ficou em meio e impossibilitada de continuar, o que de certo não succederia com a primeira!
E era um erro a construcção daquella primeira estrada gratuita?
Si da segunda vez, em 1851, quando organizei a outra companhia, não se désse a protelação que terminou com o esbulho de meu direito á sombra da lei de 26 de Junho de 1852, teria o Brazil ainda uma estrada de ferro com a garantia de 5% em vez de 7%, que veio a pagar depois.
Era ainda um erro esse reconhecimento de meu privilegio?
O erro, creia o Sr. conselheiro Ottoni, não veio da prioridade de meu privilegio, mas da procrastinação e perplexidade, geralmente lastimadas pelos amigos do Brazil. São estes dous defeitos que mais prejudicão os interesses e a reputação do governo!
Censura tambem o Sr. conselheiro Ottoni a concessão do meu privilegio antes de estudos feitos.
Não tinha, é verdade, levantado um plano da estrada; mas percorréra com um habil engenheiro o terreno, e as suas observações nos havião convencido da praticabilidade de atravessar a serra na garganta de Cacaria. Que mais era necessario para projetar a obra, que opportunamente seria delineada pelos profissionaes?
Onde não houve estudo foi no contracto Price e na organização da companhia de D. Pedro II, sem prévia designação do ponto onde devia ser a serra atravessada. Esse erro custou enorme somma ao paiz;