porém deu ao Sr. conselheiro Ottoni a gloria de ter seu nome gravado em um dos maiores tunneis do mundo.
Meu projecto assentava sobre o ponto principal; a passagem da serra. Era necessario vencer essa grande difficuldade para ligar ao littoral o valle do Parahyba, e mais tarde, os ferteis municipios de S. Paulo e Minas. Onde quer que a cordilheira se prestasse a esse fim, essa era a direcção natural da estrada. Todas as outras considerações submetido-se áquella.
Eu havia achado a solução do problema na serra de Cacaria, a qual, ao simples exame visual, revela a facilidade de ser cortada pela via ferrea. Depois de conseguido o grande desideratum a estrada contornaria o valle do Parahyba e se aproximaria do mesmo ponto onde está a estação do Desengano.
Vassouras ambicionou ser directamente servida pela estrada. Sem estudo prévio, sem a certeza da praticabilidade da obra, lançou-se a primeira projecção da linha até Belém. Ao futuro deixou-se o proseguimento do traço.
Quando em 1857 o Sr. conselheiro Ottoni se abalançou a grande obra da perfuração e trajecto da serra, esse arrojo de algum modo lhe foi imposto pelo facto anterior. Não tirava elle uma linha da côrte, mas de Belém ao Parahyba. Talvez, entretanto, fosse mais proveitoso para o paiz voltar ao antigo plano, abandonando a 1.ª secção. A estrada de Mauá e Petropolis ao Porto Novo do Cunha faria o serviço da actual linha de D. Pedro II; enquanto que a grande via destinada a entrar em S. Paulo e Minas seguiria outro rumo e alimentaria novos centros produtores.
O Brasil não está por emquanto em condições de alardear obras monumentacs e de luxo; carece mais do util; do transporte barato para seus productos. A linha planejada por mim devia custar muito menos do que a actual, e estender-se mais longe. Além disso, não se matava uma segunda linha, que bem ou mal planejada, já prestava e continúa a prestar relevantes serviços.
Vassouras, que tanto concorreu para este resultado, teve uma decepção; a via ferrea que ella esperou ver ao seu immediato serviço, deixou-a, a uma legua de distancia ao abandono e em decadencia.
É tempo de concluir esta exposição, talvez longa de mais. Creio ter-me defendido das allusões que enxerguei no esboço historico do illustre ex-presidente da companhia da estrada de ferro de D. Pedro II.
Ao contrario de S. Ex., eu confesso seus relevantes serviços a favor desse importante melhoramento; e reconheço a gloria a que tem direito pelas obras monumentaes que fez executar, vencendo opposição e obstaculos.
Não é a primeira vez, porém, que as glorias dos grandes cidadãos custão bem caro á sua patria.
Rio, 2 de Abril de 1865
THOMAS COCHRANE"