Cochranes do Brasil; a vida e a obra de Thomas Cochrane e Ignacio Cochrane

Fantasias de uma época

Apesar disso, suas palavras não tiveram o esperado êxito nos círculos políticos e financeiros mais poderosos da Corte e das maiores cidades.

Reinava no Brasil uma lastimável incompreensão acerca do verdadeiro papel representado pelas estradas de ferro, particularmente entre os capitalistas "sem ideias", "cuja base de operações era a importação de escravos da costa d'África", de acordo com as palavras, já citadas, de ALBERTO DE FARIA.

Não era só isso. Tal como acontecia na própria Europa, havia os que, sinceramente, não acreditavam na eficácia do novo meio de transporte - dispendioso, incerto no funcionamento, sem que ainda oferecesse a desejada segurança. Da mesma maneira que havia os que o temiam, quer porque a locomotiva poderia explodir, e a fumaça seria nociva aos vegetais e acabaria por destruir as culturas, além de dar morte aos pássaros e fazer secar o leite das vacas - tudo isso sem falar na possibilidade de vir a Humanidade perecer, em massa, sufocada pelos gases acumulados na atmosfera..." E as fagulhas, que as chaminés vomitavam sem cessar? Seriam a causa permanente de incêndios por sobre incêndios.

Os que já leram algo sobre o assunto sabem que não estamos imaginando argumentos. Limitamo-nos a reproduzir o que foi recolhido pelos que estudaram essa época, que chegam a citar a opinião de um homem culto - ARAGO, físico e astrônomo francês, que admitia a possibilidade da trepidação dos trens vir a ocasionar doenças nervosas; da rápida sucessão das imagens ser responsável pela inflamação da retina; da travessia dos túneis produzir defluxos ou fazer vítimas através da pleurisia; sem falar nos prejuízos que poderia ocasionar ao Exército francês, tornando efeminados os soldados, desde que lhes poupava as grandes marchas a pé. Ou de um historiador, do porte de MICHELET, que estaria convencido de que a rápida mudança de um clima para outro poderia produzir efeitos mortais nas vias respiratórias. Ou de um famoso estadista, como THIERS, que não via necessidade de construir em França mais

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