A captura da aparelhagem econômica não resultou de condições espontaneamente surgidas da desintegração do regime capitalista, aliás ainda mal desenvolvido e pouco consolidado na Rússia. Como tivemos ensejo de mostrar em outro destes ensaios, a revolução bolchevista não teve mesmo caráter proletário na acepção rigorosa que se deve dar à expressão em termos marxistas. Foi um movimento projetado, organizado e deflagrado por uma minoria extremamente reduzida de indivíduos, na qual dominava inconfundivelmente a personalidade única de Lenine. O instrumento do golpe que destruiu a efêmera democracia social de Kerenski não foi representado sequer pelas massas populares, mas por tropas insubordinadas e por contingentes de choque previamente organizados para esse fim. Assim a revolução russa, em vez de ser o grande levante proletário idealizado durante muitas décadas pelos discípulos ortodoxos de Marx, apresentou o aspecto inequívoco de um movimento planejado e dirigido por elementos de elite, que executaram um programa, cuja orientação doutrinária coletivista não alterou o fato essencial de traduzir-se nesse golpe pura e simplesmente a ação inteligente e a vontade de domínio de indivíduos superiores, que se aproveitaram das paixões e dos interesses das massas para a realização dos seus próprios desígnios. A evolução ulterior do bolchevismo, como tivemos ocasião de mostrar anteriormente, trouxe a confirmação mais decisiva dessa verdade, pondo em relevo que, por traz da espetaculosa organização coletivista