O Brasil na crise atual

quatro décadas republicanas. Com exceção de alguns vultos que para contá-los talvez sejam supérfluos os dedos de uma das mãos, os estadistas do Império não escapavam às limitações da deficiente e defeituosa cultura retórica da época. Mas a grande vantagem que eles possuíam era a tempera política conferida a alguns pela própria hereditariedade e alcançada por outros pela formação em um ambiente saturado por aquele espírito político tradicional.

A República coincidiu com o advento de elementos sobre os quais não se haviam exercido aquelas influências. O fato político da mudança das instituições em 1889 teve importância muito insignificante no determinismo do fenômeno. Tivesse sobrevivido a Monarquia e nem por isso teria sido possível evitar-se a renovação dos quadros políticos com a substituição de homens adaptados pela herança ou pela formação às funções do Estado por outros aos quais faltavam tais predicados. A renovação decorreu de fenômenos econômicos que se refletiram no plano social e ulteriormente na esfera política. Nos dois últimos decênios do Império já se tornavam bem manifestos os sinais da chegada ao poder e aos postos de influência dos portadores de uma mentalidade e de um temperamento alheios aos traços típicos do gênio político que caracteriza uma classe dirigente. E a própria queda da Monarquia resultou muito mais da dissolução interna do regime pela ação desses elementos novos, que da investida das forças representativas da corrente republicana.

O Brasil na crise atual - Página 147 - Thumb Visualização
Formato
Texto