O Brasil na crise atual

muito semelhante, desde que a revolução não fosse verdadeiramente revolucionária. Mas o traço significativo da orientação sadia do impulso revolucionário que se traduziu no movimento outubrista, embora tendo tido manifestação nas circunstâncias mais impróprias e inoportunas, temo-lo na preocupação surgida espontaneamente por todo o país de dar ao novo regime um cunho de harmonia com a realidade nacional.

Quando nos recordamos da insistência no leit-motiv da realidade brasileira durante os últimos quatro anos, somos levados a apreciar o aspecto humorístico do que se nos afigura ser apenas uma ingênua reiteração de fórmula banal de um nacionalismo exasperado. Entretanto, nessa ânsia pela realidade social e política do Brasil, depara-se-nos a expressão grandiosa e quase trágica da procura ansiosa da essência da personalidade nacional perdida por entre o acúmulo de exotismos, de aberrações teóricas, de fantasias de biblioteca e de cópias servis de modelos estranhos, que nos tem acabrunhado desde a época em que, querendo fazer a nossa independência, nos escravizamos mais que nunca ao predomínio das ideias e das formas políticas que não eram nossas. A razão de ser de uma revolução brasileira, que todos sentiam necessária e inevitável, era pura e simplesmente o retorno a essa realidade perdida e esquecida também pela classe dirigente e educada, mas de que persistia a imagem indestrutível recalcada no inconsciente nacional. O traumatismo outubrista trouxe ao limiar da consciência de cada um de nós essa imagem,

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