Mas o libertador exerceu, na plasmagem política das nações espanholas a que prestou serviços, influência muitíssimo menor que a função militar por ele desempenhada. Na organização institucional de cada uma das novas repúblicas, o papel de protagonistas coube sempre a homens do tipo que acima apontamos. No caso brasileiro, a independência foi orientada por elementos que se achavam em níveis intelectuais e culturais diferentes, mas que tinham todos entre si o traço comum de um teorismo muito mais acentuado que a consideração de problemas práticos. Aqueles homens não se orientavam todos pelas mesmas ideias, variando mesmo as correntes a que se incorporavam do reacionarismo ainda impregnado de absolutismo até o republicanismo jacobino. Mas todos eles pensavam politicamente através do prisma da cultura maior ou menor que lhes vinha da Europa.
Convém ainda acentuar o fato muito importante de que os principais protagonistas da independência e os homens que maior influência exerceram nos anos imediatos ao rompimento com a metrópole eram profundamente influenciados pela educação portuguesa ou pelo contato com a vida metropolitana. E o próprio fato da independência ter sido elaborada no Rio de Janeiro, ao tempo a mais portuguesa das grandes cidades do país, concorreu por certo para reforçar o exotismo que viciou a organização política centralizada pela figura de um príncipe estrangeiro.