O Brasil na crise atual

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A independência tornou-se assim paradoxalmente o ponto de partida de uma reação antinacionalista no sentido mais profundo da expressão. Emancipamo-nos politicamente, afirmando a nossa soberania, mas ao mesmo tempo começamos a nos distanciar da trajetória normal do nosso desenvolvimento histórico, iludidos pela miragem dos modelos estranhos que uma pequena minoria culta ou semiculta encarava como tipo de perfeição adaptável a todos os povos da terra. A este propósito não é inoportuno lembrar aqui que a elite intelectual, a cujo papel na independência acima aludimos, era toda mais ou menos influenciada pela ideologia francesa do século XVIII e comungava o credo de Rousseau sobre a perfectibilidade humana e era inclinada a não prestar atenção às peculiaridades de psiquismos nacionais, encarados como fatos efêmeros no curso de uma progressiva fraternização dos homens.

O processo desnacionalizante prosseguiu e mais tarde veio a ser estimulado na sua marcha pela ação pessoal de Pedro II, através de cujos atos e atitudes se reflete nitidamente a ideia de que a sua missão consistia em europeizar cada vez mais o Brasil. Tornamo-nos assim um curioso caso histórico de uma nação que tendo tido personalidade coletiva característica quando vivia sob o regime colonial, passou a colonizar-se espiritualmente

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