promotores, o que resultou em verdadeiro aborto da autêntica revolução brasileira, que só poderia vir à luz ao cabo de uma gestação espiritual suficientemente prolongada, para dar forma e consistência aos ideais políticos e sociais existentes apenas como esboços embrionários no subconsciente nacional.

Como procuramos mostrar no primeiro dos ensaios reunidos neste livro, a revolução em si teve um caráter de certo modo conservador. Em outras palavras, a revolução, como todas as crises de mutação que se operam na natureza, cristaliza em novas formas orgânicas da sociedade pela eliminação de outras as configurações elaboradas em um dado momento histórico pela mentalidade das elites intelectualmente dirigentes. Entre nós, em 1930, esse trabalho de gestação mental estava apenas mal começado e o delineamento de ideias políticas era ainda tão rudimentar, que o próprio choque traumático determinado pelo movimento revolucionário o dissolveu. A revolução apoderou-se do país e quando, passado o momento de exaltação da fácil vitória, se viu com as responsabilidades de traçar novas diretrizes ao Brasil, descobriu que nada tinha em si para inspirá‑la e orientá‑la. Por esta forma a nossa revolução foi antirrevolucionária. Não destruiu tanto as formas de organização pré-existentes, quanto interrompeu o curso do próprio movimento ideológico, que viria torná‑la no correr do tempo uma verdadeira mutação histórica na vida da nacionalidade.