promanava da elaboração cívica da vida municipal. A outra era representada pelos particularismos provinciais adstritos ao círculo dos interesses regionais e orientando‑se mais para Portugal, donde aqueles interesses exclusivamente dependiam, que para o conceito ainda abstrato e informe de uma pátria brasileira.
A província era egoísta e lusitana. O município projetava‑se para além da sua esfera acanhada e era essencialmente brasileiro e pelo menos subconscientemente antiportuguês. A razão deste fenômeno à primeira vista curioso era entretanto muito simples. O domínio português não era politicamente opressivo. As relações do governo de Lisboa com as províncias não envolviam vexames e constrangimentos que criassem nelas fortes antagonismos contra a metrópole por parte dos elementos socialmente predominantes e que em torno dos governadores constituíam uma espécie de oligarquia colonial. Diversa era a situação do município. Nestes desenvolviam-se as atividades econômicas sobre as quais pesava asperamente o conjunto de medidas administrativas e fiscais com que o governo metropolitano se apropriava pela taxação e por outros meios de uma quota muito considerável dos frutos do trabalho brasileiro. Assim, enquanto a província não tinha razão de queixa de um estado de cousas, em que a parte política que mais diretamente a afetava era perfeitamente tolerável e os interesses, embora atingidos pelo regime administrativo e fiscal, sofriam os seus efeitos menos sensivelmente, dado o seu vulto