Mauá tinha por Lamas uma admiração quase exagerada; admiração pela sua cultura humanista, sua educação, sua maneira diplomática de tratar as coisas e os homens; enfim, admirava aquilo que em realidade lhe faltara e lhe faltava. Julgava-o segundo suas próprias palavras, "a maior cabeça do Rio da Prata", o que encerra evidentemente um exagero, aliás característico de sua personalidade. Queria-o como não quis a nenhum político brasileiro que ele tratava ironicamente em suas cartas particulares. Considerava-o acima dos homens públicos do Brasil — retrógrados, tradicionalistas, lentos.
Lamas era para ele o símbolo do político moderno, internacionalista pelos laços que ligavam suas empresas particulares, e europeu pela cultura liberal. Um homem do Sul, um político da época, uma cultura universal. Tudo o que faltava aos políticos brasileiros de seu tempo.
Por isto, sua bolsa esteve sempre liberalmente aberta ao uruguaio; seu prestígio sempre à sua disposição, e sua amizade inalterável e constante. Fraternalmente unidos por mais de 30 anos, política e economicamente, suas iniciativas sempre coincidiram, embora fossem de países diferentes, muitas vezes em luta, e frequentemente com tendências opostas.
Rebuscando os papéis de Lamas, sempre aqui e ali surge a palavra Mauá. A Mitre, a Herrera sempre associa seus pedidos aos do banqueiro brasileiro; sempre envia uma palavra recomendando atenção aos assuntos de Ireneo Evangelista; e sempre procura avivar a lembrança dos que querem intencionalmente esquecer o que lhe devem na luta contra Rosas, e na implantação do novo governo unitário.
Já em 1862, quando Mitre era chefe do governo argentino, lembra-lhe numa carta reservada: "Mi querido