roíam o retardado ambiente nacional. Avançando sempre por entre nuvens, massas pesadas de lama que impediam uma marcha mais acelerada que as do carro de bois, Mauá é uma iniciativa isolada que se esbate contra a pesadez e a torpeza da tradição. Não pôde se desprender deste ambiente porque tinha suas bases fincadas como estacas de pau a pique na própria terra. E é justamente pela absorção dos defeitos da época que Mauá se apresenta como "homem brasileiro". Incorpora sem querer as debilidades que muitos não perdoam a grandes homens, e se coloca assim, dentro da geração abolicionista, preparadora da República que assistiu o esfacelamento da Regência e a implantação do segundo Império.
Suas cartas estão cheias destes imprevistos, destes sonhos de difícil realização — fatos absurdos para serem analisados hoje depois de decorridos quase 80 anos sobre eles. Inútil portanto seria insistir, sem incorrer numa falsidade histórica, na grandiosidade de super-homem, depois de conhecer a correspondência que se segue. Seria melhor, para manter esta ideia, queimar todas as suas cartas, porque nelas aparece um Mauá tosco em expressões, movendo-se às vezes com uma ingenuidade de menino, mas ativo, empreendedor, no meio das acesas lutas do ambiente platino e nacional.
A segunda de suas características a que me referi, — a pitoresca linguagem ortográfica, revela esplendidamente o autodidatismo e a confusa cultura bebida entre ingleses e castellanos. E parece ser este aspecto o que mais claramente revela um Mauá afastado do ambiente em que vive. Exprime a distância que existe entre ele e o resto da geração que atuava nas lutas partidaristas e, principalmente, sua falta de preparação básica para enfrentar-se com adversários encharcados de