Correspondência política de Mauá no Rio da Prata (1850-1885)

literatura europeia e finalmente adestrados para as lutas parlamentares.

O defeito principal de Mauá, — aquele que seus adversários não se cansaram de chamar atenção: a falta de cultura livresca é o que se patenteia melhor na sua correspondência.

A geração literária e parlamentar que rodeava Mauá era, como se sabe, toda formada na cultura europeia. A gramática, a retórica, a literatura romântica, eram elementos mais importantes no Brasil do segundo Império, do que qualquer empreendimento que se destinasse a um melhoramento público. O romantismo levava tudo em sua onda: Hugo era imitado, Lamartine plagiado, e os parlamentares sabiam de cor os últimos discursos pronunciados no parlamento da França pós-revolucionária, e da Inglaterra. O próprio imperador era um símbolo literário, com seu desprendimento pelas coisas práticas. Antes de pensar na navegação do Amazonas, pensava em aprender sânscrito... Antes das estradas de ferro, o grego e o latim...

O desprezo pelo trabalho efetivo, prático, se revelava abertamente nesta sociedade aristocratizada pelo sistema social escravocrata e pela influência das cortes europeias. Não existia uma base real para as realizações que tentava Mauá: tudo marchava a passos lentos e rotinários.

A cultura livresca, fofa e superficial; o culto quase fanático pela literatura estrangeira, pelas formas políticas importadas da Europa, em pleno surto industrialista, imitação superficial que não ia às camadas profundas, eram as características típicas do Brasil do Segundo Império, onde atuava Mauá.

O isolamento social em que viveu nos primeiros anos, e as dificuldades econômicas que enfrentou desde criança,

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