que se pronunciavam no parlamento, ou com os artigos panfletários dos abolicionistas da primeira hora.
Quando pensava na abolição, pensava de uma maneira concreta: não empregava em suas indústrias trabalhadores escravos, e mandava buscar imigrantes nos centros europeus asiáticos. Enquanto gritavam os abolicionistas, Mauá organizava, indiretamente, a abolição, colocando o trabalhador assalariado frente ao trabalhador escravo. Enquanto os liberais clamavam por uma legislação mais democrática, Mauá estendia os trilhos das vias férreas que serviam para estabelecer as bases de uma real democracia, por permitir uma maior expansão da produção. Não era um sonhador vazio; era um trabalhador prático, que podia saber pouca gramática portuguesa, mas que sabia o valor da indústria na edificação da sociedade moderna.
Este sentido concreto, efetivo, revelado pela quantidade e qualidade das empresas que realizou, mostra quanto eram sólidos seus conhecimentos da vida, embora lhe faltasse a tintura livresca para adornar seus escritos e seus discursos parlamentares. A fraqueza de Mauá, isto é, sua quase utopia em querer realizar empreendimentos de tamanha envergadura dentro do pobre e retardado ambiente nacional, se revela nesta falta de conexão entre sua pessoa e o resto da geração do segundo Império. E esta fraqueza — fruto do individualismo feroz que não lhe permitia analisar melhor aquilo que o rodeava, perdeu-o definitivamente.
As duas faces de sua personalidade: utopia e realidade; sonho e aplicação prática estão presentes na sua correspondência. A dificuldade de olhar em redor de si um pouco mais além de seu individualismo feroz, tornou-o impermeável à penetração de certos conhecimentos sociais, imprescindíveis para as empresas que realizava. Caiu vencido ao cabo de longos anos de luta,