Correspondência política de Mauá no Rio da Prata (1850-1885)

depois de ter em vão tentado construir um edifício sólido, sobre as areias movediças do ambiente da época.

Nenhum país teve, como o Brasil em sua origem, fatores mais firmes para sua unificação. A colonização portuguesa que se iniciara atendendo às diferenciações das diversas regiões, passa, a partir da vinda da Coroa portuguesa, a um estreito centralismo, e os erros políticos que desde então decorrem, resultam deste fator básico — unificação precipitada.

Estudando as condições físicas do Brasil, vê-se claramente que foram elas que favoreceram a unidade nacional e não, como querem muitos, o centralismo de Pedro II. O desmembramento territorial seria um fenômeno violento, enquanto que a unidade um fenômeno natural. O centralismo administrativo e político não fez senão esmagar as aspirações provinciais — cavalo de batalha da obra de Tavares Bastos — forçando uma situação que teria provavelmente provocado um desmembramento, se as condições naturais não nos tivesse unificado antes mesmo de haver nascido Pedro II...

A obra de centralização que desenvolveu o Império foi evidentemente falsa, neste imenso território em que as zonas geográficas pediam uma federação ampla para desenvolvimento de suas produções diferenciadas. O estado francês tão de perto imitado pelo nosso Império, não se adaptava ao caso brasileiro, mas o Brasil manteve-se unido, malgrado esta política centralista.

O antagonismo entre a cidade e o campo, quer no norte, quer no sul do Brasil, se formou junto ao antagonismo entre brasileiros e portugueses. O sentimento de autonomia nacional coincide com a ideia de libertação da metrópole e é o primeiro sinal da preponderância do centro urbano, político, administrativo, sobre o campo.

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