Correspondência política de Mauá no Rio da Prata (1850-1885)

acesa contra os velhos sistemas de transporte e de produção.

Vicente Licínio Cardoso fazendo uma comparação entre Mauá — expoente máximo da nossa era industrialista, e Pedro II — símbolo da sociedade escravagista e tradicional, resume perfeitamente o choque das duas mentalidades que coexistiram e coexistem todavia; "o caso é que se a mentalidade de Pedro II tivesse o vigor construtivo da cerebração de Mauá, teríamos constituído na história dos povos um caso de evolução interessantíssimo; se em vez de professores de sânscrito e de árabe, se em vez de lições sobre línguas indígenas o imperador mantivesse um contato utilitário com ingleses, franceses e alemães, que nos pudessem ensinar as novidades técnicas do seu tempo, então teríamos tido um surto vigoroso de aparelhamento material"...

A Licínio Cardoso que tão bem resume as duas mentalidades que se enfrentam durante quase 50 anos sem se fundirem, apesar das grandes aproximações que mantêm várias vezes, escapa, talvez intencionalmente, à verdadeira causa deste antagonismo pessoal. Ele é apenas o reflexo do violento choque social de dois fatores distintos; D. Pedro e Mauá representam, por circunstâncias diversas, duas expressões de uma mesma sociedade. A tradição e o aventurismo. O sistema escravagista e a indústria. A cultura livresca, abstrata e a cultura prática, autodidata e realizadora.

Analisando-se assim em linhas gerais e esquemáticas os grupos sociais e os organismos que fermentavam sob o sistema político existente, vemos que Mauá forçosamente estava ligado a todos aqueles por laços pessoais. Natural do sul do país, com interesses presos às repúblicas do Prata, maçom, possuía todas as características do novo tipo social que estava em choque com as forças estacionárias do Império.

Correspondência política de Mauá no Rio da Prata (1850-1885) - Página 30 - Thumb Visualização
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