O aventurismo de Mauá é o mesmo aventurismo dos antigos mercadores da aurora do capitalismo, dos industriais que fizeram a Inglaterra e que construíram rapidamente os Estados Unidos. É o mesmo aventurismo que cria o bolsista, o descobridor de petróleo e aqueles que vão incorporando novos elementos aos já tradicionalmente explorados pelo homem. O norte-americano do Oeste, os descobridores de ouro, os domesticadores do gado bravio, os sertanistas, os bandeirantes, os que tentam novas indústrias ou novas formas de explorar o capital são os aventureiros da nova era. Desde Marco Polo a Colombo; de Edson a Fulton; de Disraeli a Mauá.
Ao mundo faz falta esta classe de homens, que em geral saem das camadas mais humildes da sociedade e começam por olhar os fatos de um ponto de vista diferente, e possuindo um espírito de realização, pouco tendo a perder, atiram-se às conquistas com desinteresse e audácia.
Mauá, no mundo brasileiro da época, foi o protótipo deste espírito de aventurismo. Sua atuação se tornou mais singular pelo especial desligamento dos homens públicos brasileiros com a realidade social. Tavares Bastos e Mauá foram talvez as duas únicas personalidades do segundo Império que olharam para dentro da realidade nacional com ideia concreta. Separados pela distância que vai de um polemista a um comerciante, ambos lutaram contra a fofa política imperante. O primeiro através da imprensa, do parlamento; sua crítica se dirigia especialmente às causas políticas que impediam o desenvolvimento industrial do Brasil.
O estreito centralismo administrativo do Império e suas consequências funestas sobre a economia provincial foram para Tavares Bastos as causas principais do retardo brasileiro.