Tobias Barreto: a época e o homem. (em apêndice o Discurso em mangas de camisa com as notas e adições)

"Mas tu foges de mim!... ouve, espera:

Se procuras saber quem eu sou,

Diga o anjo que sempre comigo

Minhas magoas sentiu e chorou.



Diga a lua a quem conto os meus sonhos.

A quem dou para ver e guardar

Meu tesouro de lágrimas puras

Que as angústias me querem roubar."

O velho Cavalcanti não escutava versos. Queria pergaminhos! Tobias pensou até no suicídio.

Graças à exuberância do temperamento, à sua prodigiosa seiva, à fantasia, à capacidade criadora da imaginação, prontamente se refazia dos sofrimentos, derrotas e humilhações. Seus estados de alma sucediam-se com a rapidez das mutações no céu tropical. Da melancolia mais profunda, do ceticismo mais displicente passava às expansões mais calorosas. Sua atividade pontilhava-se de ímpetos e recuos. Aos transportes de entusiasmo sucediam crises de depressão. Sílvio Romero viu-o, muitas vezes, rir e chorar como uma criança, entregue ao drama da própria sensibilidade.

Ao cabo, triunfava a força animal de viver, o desejo de participar do amor, das coisas belas e agradáveis, o desejo de intervir, de esclarecer, de tomar partido. Não podia ser indiferente. Queria estar no centro de tudo, debatendo, dirigindo, censurando. Só parava em casa para estudar e escrever.

Tobias Barreto: a época e o homem. (em apêndice o Discurso em mangas de camisa com as notas e adições) - Página 23 - Thumb Visualização
Formato
Texto