Tavares Bastos (Aureliano Cândido): 1839-1875

de uma bandeira qualquer. A flâmula que arvorasse podia trazer as cores mais contraditórias - absolutista, libertador, legalista, republicano, imperialista - tudo lhe servia, nada lhe importava, pois de tudo, apenas, tinha uma noção, vaga e instintiva. O que queria era a luta, com aspereza e crueldade.

Nos seus domínios, havia de tudo: negros fugidos que formavam as legiões sinistras, conhecidas popularmente por papa-meis, índios pervertidos, trânsfugas das milícias, acelerados de todas as procedências, até um ministro de Cristo, o padre José Antonio, que ele incorporara ao séquito, em São Bento, e lá vivia no recesso tenebroso das matas, com a tranquilidade feliz de um Druida nas florestas sagradas.

Àquela massa bárbara, trabalhada pela fermentação dos sentimentos mais vis e pelos impulsos da mais perigosa rebeldia, ele soube impor a unidade da obediência. Sobre o tumulto de tão torvos instintos, a autoridade do chefe pairava sem contraste.

Temido, tornara-se respeitado, daí as alianças secretas com os chefetes locais, com quem mantinha o melhor comércio, pela reciprocidade de favores criminosos. Implacável para com os inimigos, contra os quais lançava os papa-meis, Vicente de Paula crescia de audácia e de força.

Tropas numerosas são enviadas para combatê-lo; mas as matas continuam invioláveis. As sortidas ousadas que a tática sinuosa do caboclo prepara surpreendem e desnorteiam os soldados do governo.

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