de costas um para o outro e entre os quais o intercâmbio de pessoas e, sobretudo, de mercadorias, depois de ter sido impossível durante longo tempo, é ainda hoje em dia muito difícil.
A diversidade das composições étnicas leva-nos a separar os países sul-americanos, não mais em dois, mas em três grupos distintos: uma América Andina, com predominância de contingentes étnicos ameríndios, uma América Platina, quase exclusivamente europeia e, finalmente, uma América Brasileira, em que os elementos étnicos de origem ameríndia e de origem africana se fundiram com elementos portugueses para dar origem à etnia especificamente brasileira, na qual, conquanto o contingente europeu seja nitidamente dominante, é bastante numerosa a mestiçagem. A divisão da América do Sul, entre parte tropical e parte temperada, a que se aferram ainda muitos demógrafos e sociólogos, revelou-se muito artificial, em consequência do seu relevo, e não oferece qualquer valor político ou econômico.
Em compensação, há uma terceira divisão das nações da América do Sul em dois grupos e que é a mais importante de todas: leva a contrapor a América Portuguesa à América Espanhola. Do ponto de vista da história, da língua e da cultura, existem duas Américas do Sul: a América Espanhola tem, no sul do continente, nove repúblicas, a América Portuguesa reduz-se unicamente ao Brasil, mas em importância territorial e demográfica, não deixam de ser quase equivalentes.
Desse modo, a América do Sul não é, certamente, uma América Espanhola; considerá-la como uma América Latina ou uma América Ibérica é menos absurdo, conquanto deforme grandemente a realidade. A América Andina, como a América Central, conserva uma população e traços culturais ameríndios muito numerosos para que sejam subestimados. A Bolívia, o Equador ou o Peru são antigas colônias espanholas, mas não abrigam, quer exclusivamente, quer principalmente, populações de origem ibérica ou de cultura latina.
A generalização ibero-americana só é válida em oposição aos países novos da América do Norte; o que dá ao observador estrangeiro a impressão de unidade dessa América Ibérica são as diferenças que colocam os seus povos em situação oposta aos anglo-saxões dos E.U.A. e do Canadá e não as semelhanças, bem pouco numerosas, entre a República Argentina e o Brasil ou entre o Uruguai e o Peru.