Os dois Brasis

transporte terrestre é que os transportes aéreos atingiram um desenvolvimento extraordinário na América do Sul, onde se passou da era do cavalo para a do avião. Nas zonas mais selvagens do Brasil, logo que o Serviço de Proteção aos Índios estabelece contato com alguma tribo primitiva, os próprios índios se encarregam de construir uma pista de aterragem rudimentar, e os exploradores bem como os primitivos que acabam de descobrir, são postos, assim, em contato direto com a civilização.

Esse desenvolvimento dos transportes aéreos foi, entretanto, mais eficaz ao vencer o isolamento político e intelectual do que o econômico: o avião continua tão dispendioso e de tão pequena capacidade que o intercâmbio de pessoas entre a maioria das nações sul-americanas continua escasso e a troca de mercadorias, inexistente fora da via marítima. Só os privilegiados da aviação podem transpor diretamente as fronteiras do Brasil com a Venezuela, a Colômbia ou o Peru; pode-se, também, desde 1956, atravessar a do Brasil-Bolívia, graças à nova linha de estrada de ferro, mas, enquanto o trecho boliviano dessa estrada transcontinental não for concluído, o viajante estará diante de um impasse. Na América do Sul, quando não se pode sobrevoar as fronteiras, é conveniente contorná-las; não é através das suas fronteiras que os países vizinhos estabelecem contatos econômicos proveitosos, e sim, unicamente, por mar; o Brasil e a Venezuela podem, naturalmente, trocar mercadorias, mas não o fazem porque estejam no mesmo continente, nem porque tenham 1.500 quilômetros de fronteira comum, e sim porque dão para o mesmo oceano e para esse oceano dão também os E.U.A., a Inglaterra ou a França.

Entre a América do Sul e os E.U.A. ou a Europa as distâncias são grandes, mas são distâncias aéreas e marítimas, que se transpõem pelos meios de transportes rápidos, de uso generalizado, do século XX; são as distâncias da era da energia, que se expressam em dinheiro e não em duração ou em tropeços. Entre o Brasil e os seus vizinhos do oeste, é pelos meios primitivos da humanidade que se devem transportar as mercadorias pesadas; quando não se pode fazê-lo tem-se que voltar as costas ao alvo e, para permanecer no mundo moderno, procurar o mar e empreender o grande périplo do continente. O brasileiro que quiser ir a Lima ou a Quito poderá naturalmente tomar o avião e chegar lá em poucas horas, mas os produtos da siderurgia brasileira levariam mais tempo e pagariam fretes mais elevados

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