A conquista da Paraíba

apresentara o monarca, cego de fanatismo como estava e sedento de martírio pela fé dos antepassados.

A estas causas de perturbação, vieram juntar-se, logo depois, a da luta no sul entre as ambições de D. João V e de Isabel Farnese em torno da posse de vasta região entre Santa Catarina e a margem direita do Prata. O soberano espanhol Filipe V era dominado por profunda melancolia, dizem que pela dor de não ter podido subir ao trono francês após a morte do avô Luís XIV. O travo levou as rédeas do governo para as mãos da sua segunda esposa, a irrequieta Farnese. O Rei de Portugal também se encontrava obcecado pela posse do sul, como se vê na correspondência entre José da Cunha Brochado e D. Luís da Cunha, onde escreve o primeiro "porque S. Mag. se fez um ponto de estado e de honra de conseguir as terras de toda a costa setentrional da ribeira da Prata", motivo de hostilidades que se prolongaram até o reinado de D. Pedro I, Imperador do Brasil. A razão do apreço do soberano pela região contestada proviria tanto da persuasão de que se tratava de terras facilmente colonizáveis por europeus, mercê do clima e mais circunstâncias favoráveis, como também motivos de segurança. Um curioso comentário atribuído ao general Dumouriez, publicado no século XVIII, acerca da possibilidade de invasão das Minas Gerais por forças vindas do sul, pertence ao rol de notícias avolumadas no tempo, provavelmente a influir na atitude de D. João V. Melhor do que ninguém, sabia o monarca o espírito reinante a respeito nas cortes da Europa, de onde os três fatores maiores de dissipação do ouro brasílico eram compra do apoio britânico (tratado de Methuen), prodigalidades del-Rei feito Sardanapalo do Ocidente segundo historiadores portugueses, e ruinosas guerras no Sul do continente americano.

A conquista da Paraíba - Página 352 - Thumb Visualização
Formato
Texto