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ANGÔ
O alicerce em que Angô levantava firma capaz de se medir com reis e imperadores, seguia a tradição da época no Ocidente europeu em pleno desenvolvimento, na fase histórica por esse motivo chamada Renascença. Registrava-se no momento nos países mais adiantados da Europa invariável evolução. Todo especulador depois de bem-sucedido em negócios, lastreado de capitais e de crédito, adquiria apoio do governo e daí por diante geralmente se dedicava à arrematação de funções públicas nos monopólios mantidos pelo Estado. Fora, até, o costume, causa na Península Ibérica de violenta animadversão contra judeus desfrutadores de tais cargos, por falta de burguesia média na sociedade luso-espanhola em condições de exercê-los. Na França, era privilégio do que hoje se diria - grandes burgueses aos poucos afidalgados, como sucedera aos Angô - gente ativa e bem pensante, enaltecida no fim do século XV com patentes de nobreza por Carlos VIII.
Nessa qualidade entravam os exatores em contato com as principais figuras da corte, cujo apoio necessitavam para realizar certos e determinados negócios, e, às quais, por sua vez, serviam, por lhes trazer não raro solução a prementes aperturas. Angô, protegido pelo cardeal d'Amboise, personagem dos mais influentes no Louvre e em Fontainebleau, patrono do armador junto ao trono, ingressara no círculo negocista formado em torno do Valois. Recebido o primeiro impulso nada