Jorge Tibiriçá e sua época (1855-1928) T2

um obus. Os jornais do Rio, mormente o País, cujo noticiário sobre os episódios de rua é muito minucioso, dão conta dos acidentes produzidos por esses tiroteios praticados a esmo, sem alvo propriamente militar e dos quais diariamente procediam vítimas inocentes. Meses seguidos, leem-se invariavelmente esses breves relatos de sinistros provocados por balas e granadas extraviadas nas ruas, nas residências populares, perfurando paredes, atravessando muros de quartos e de quintais e vindo colher dentro de casa ou na via pública transeuntes a caminho de seu serviço, mulheres em labuta doméstica ou crianças a brincar nos jardins ou nos passeios. Nesse duelo ingrato de artilharia e de descargas de fuzis, os mais atingidos eram quase sempre pessoas do povo, apanhadas de surpresa por estilhaços e projéteis que despedaçavam telhas ou móveis e se insinuavam em todas as espécies de casas, visitantes indesejáveis que, além dos sustos e estrondos, ocasionavam contínuo desassossego e sofrimentos físicos muitas vezes fatais.

Aliás, esse sistema de atirar à toa, sem noção de responsabilidade, vamos vê-lo muitos anos mais tarde em São Paulo, no correr da revolução de 1924, onde se consumiram inutilmente milhões de tiros de fuzil, sem falar nos canhoneios desperdiçados sobre uma cidade aberta e cujos bairros mais populosos foram varridos à metralha com uma inconsciência pasmosa.

O mais triste nos episódios de 1893 é que a cegueira partidária levou os jornais governistas a reclamar a intervenção alienígena contra a esquadra rebelde e a preconizar o desforço dos navios de guerra estrangeiros para a reparação de supostos brios ofendidos pelas belo-naves brasileiras!

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