vistos no seu lugar natural e certo, como vemos na harmonia de um panorama o mar imponente e o mísero riacho, a árvore e as folhas.
Disse Southey jamais ter existido nação "que em proporção dos seus meios tanto fizesse quanto a portuguesa. Pequeno como é Portugal, um dos mais diminutos reinos da Europa, e longe de ser bem povoado, apoderou-se por bom direito de ocupação da parte mais bela do mundo novo e suceda o que suceder sempre o Brasil há de ser a herança dum povo lusitano". Se Southey acompanhou, como é curial, o processo da nossa independência, por certo sentiu calafrios, como os sentiu Hipólito da Costa, ante os perigos de separação das províncias e partilha territorial indo água abaixo o sobre-humano esforço dos portugueses em manter a nossa admirável unidade geográfica. Em nenhum momento, porém, correu ela risco maior do que na longa luta com aquela tenebrosa Companhia das Índias Ocidentais, empresa de pirataria e conquista, negócio, tráfico e rapina; empresa mista, particular e pública, que, aproveitando-se de guerras incessantes, de tréguas indecisas e de pazes vacilantes, predava para si e para os Estados Gerais, os quais, em última análise, a manejavam no interesse de sua tortuosa política.
Por vários motivos, a disputa da Companhia com a Espanha e Portugal, só com Portugal, após a restauração, e por fim menos com Portugal do que com portugueses e brasileiros de Pernambuco, esteve diversas vezes para terminar, ora em favor da Holanda, ora de Portugal. Por que deixaram os Estados Gerais, em azadas ocasiões, de consolidar pela força a posse da região ocupada ou ao menos a de Pernambuco? Por que não aceitaram as desesperadas aberturas de Lisboa no sentido de trocarem uma posse precária por título público de propriedade?
Lendo-se o The Dutch in Brazil, em boa hora traduzido e publicado pela Companhia Editora Nacional, compreende-se, através de aguda análise da documentação do tempo, inclusive de manuscritos só agora compulsados, e de inteligente comparação dos acontecimentos simultâneos e encadeados, as razões de terem os Estados Gerais perdido todas as oportunidades de embolsar em definitivo a conquista americana. Muitíssimo mais fortes e ricos do que Portugal, os Estados Gerais acabaram corridos do Recife por um insignificante destacamento, embora valente e obstinado, para, afinal, vender a prazo o que não soubera conservar à vista. Portugal comprava o que retomara e era seu; no fundo pagava o prêmio de uma apólice de seguro. Divididos, os Estados Gerais viviam "em situação caótica e sui generis", à mercê da balança de negócios de Amsterdã, "cujas grandes empresas de comércio preferiam o domínio sobre o tráfico e a expectativa de bons lucros às remotas compensações advindas da colonização". No fundo, a