A Idade de Ouro do Brasil; dores de crescimento de uma sociedade colonial

Holanda perdeu a conquista por força de decidida inapetência pelos empreendimentos construtivos exigidos pela colonização. A Companhia das Índias Ocidentais fora instituída para produzir lucros, para dar dinheiro, para colher o fruto alheio e não para plantar e cuidar do seu.

Em The Golden Age of Brazil o Professor Boxer prosseguiu nos seus acurados estudos sobre a situação e o desenvolvimento da nossa terra nos séculos XVII e XVIII, abrangendo, não apenas o ciclo do ouro, como o título do livro exprimiria, mas os fatos que o circundaram nas suas relações internas e nas suas implicações com o mundo civilizado. O complexo racial com as peculiaridades da fusão de brancos, pretos e índios é examinado em seus efeitos e influências, inclusive na gênese da Guerra dos Emboabas.

O predomínio do índio e do mameluco em São Paulo e do escravo africano e do mulato nas capitanias do Norte tornou heterogêneos os dois lados em conflito na disputa do ouro. Firmados em indiscutíveis prioridades, como descobridores das minas, os paulistas não se dispunham a entregá-las de mão beijada aos forasteiros. Além de defenderem o que haviam descoberto e conquistado, eles, muito mais ligados aos nativos do que aos europeus, nada tinham de comum com os emboabas. Encaravam-nos como intrusos e inimigos. A profunda diferença entre a prosperidade de Pernambuco e da Bahia e o atraso e a pobreza de São Paulo não imprimia aos seus habitantes nenhum sentido nacional. Lutaram como estrangeiros, e os paulistas, descalços e mal armados, levaram a pior.

O "rush" das minas, a quintagem, o contrabando, a cunhagem de moedas, o aventureirismo, o aumento da escravaria, a circulação das mercadorias, o elevado preço dos gêneros e utilidades; o pastoreio; a lavoura; o estado social; os episódios dos mascates e da tomada e pilhagem do Rio de Janeiro pelos franceses, enfim, tudo quanto aflorou naqueles anos e concorreu para marcar e impelir, ou reter, a marcha da civilização brasileira é magistralmente exposto e examinado pelo Professor Boxer com a perspicácia de uma inteligência altamente dotada e enriquecida de invulgar cultura. Basta dizer que o ilustre mestre britânico está nas excepcionais condições de ler no original os documentos dos arquivos portugueses, dos franceses e dos espanhóis e também dos holandeses.

The Golden Age of Brazil não traz apenas novos elementos para a História de extensa fase anterior ao ministério de Pombal, cujos adiantamentos lançaram as bases da nossa independência. Esclarece e elucida os seus fenômenos e prepara a compreensão dos magnos acontecimentos do final do século XVIII e dos albores do século XIX.

CARLOS RIZZINI

A Idade de Ouro do Brasil; dores de crescimento de uma sociedade colonial - Página 33 - Thumb Visualização
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