A Idade de Ouro do Brasil; dores de crescimento de uma sociedade colonial

para o Maranhão e para o Nordeste do Brasil(21) Nota do Autor. Também Lisboa fornecia ampla cota de emigrantes, e a Beira um bom número deles. Entretanto, o Além-Tejo, Trás-os-Montes e o Algarve parecem ter sido fracamente representados entre os que pensavam melhorar suas vidas emigrando para o Novo Mundo.

Tal como se fazia inevitável dadas as circunstâncias, uma classe de camponeses-proprietários brancos, possuidores de terra que cultivassem, não poderia ser formada no Brasil colonial. Mesmo os que tinham ganho sua vida empunhando o alvião ou a enxada em Portugal e nos Açores, não tinham a intenção de fazer o mesmo no Brasil, se lhes fosse possível evitá-los. Alguns tornaram-se lavradores ou meeiros nos canaviais mais importantes, apesar de não fazerem pessoalmente o trabalho, contentando-se em vigiar alguns escravos. Outros cultivavam fumo, e já tal produto era cultivado geralmente em tratos de terra menores do que os exigidos pelos canaviais, alguns deles parecem ter feito, de início, seu próprio trabalho. Pelo fim do século, entretanto, o agricultor médio possuía, pelo menos, um ou dois escravos. Outros ganhavam a vida como carpinteiros, pedreiros, e assim por diante, nas cidades, mas também esses, mal ganhavam dinheiro suficiente para comprar um escravo, tratavam logo dessa transação. "Todos esses artífices compram negros" - escreveu William Dampier, depois de sua visita à Bahia, em 1699 - "e exercitam-nos na prática de suas várias artes, o que é de grande auxílio para eles." Esses "mecânicos", como desdenhosamente os chamavam, formaram confrarias equivalentes a guildas, nas várias cidades principais, mas nunca chegaram a obter a riqueza e a importância de seus iguais na América Espanhola. Apesar disso, alguns deles, mais bem dotados, sobrepuseram-se ao preconceito profundamente arraigado contra quem quer que trabalhasse com as próprias mãos. A história do êxito de Antônio Fernandes de Matos, que emigrou para Pernambuco na qualidade de pobre pedreiro e chegou a ser um dos mais ricos e respeitados habitantes da capitania, não foi a única(22) Nota do Autor.

Os emigrantes que tinham alguma instrução tornaram-se, de preferência, escriturários, caixas, balconistas, ou vendedores ambulantes,

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