para o Novo Mundo. Dez anos mais tarde, um escritor anônimo, possuidor de ampla experiência quanto ao Brasil, assegurava que todos os anos, "aproximadamente dois mil homens provenientes de Viana, Porto e Lisboa emigravam para Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro"(19) Nota do Autor. As mulheres brancas não emigravam na mesma proporção, mas, fosse como fosse, maior foi o número das que fizeram aquela curta e segura travessia com seus homens do que o das que se aventuraram aos longos e perigosos seis meses de viagem para a Índia.
A imigração, entretanto, não se resumia naqueles que tinham sofrido reveses na vida ou não encontravam emprego em sua terra. O Brasil tinha, na Europa, a fama de ser País onde a longevidade era comum, tanto entre os habitantes aborígines como entre os colonos europeus. Sir William Temple registra em um de seus Ensaios: "Lembro-me que Dom Francisco Manuel de Mello, embaixador português na Inglaterra, disse-me que na sua terra era frequente irem homens idosos, ou de saúde decadente, sem esperanças de ter mais do que um ou dois anos de vida, de viagem numa frota brasileira, vivendo longamente depois de ali chegarem, às vezes vinte, trinta, ou mais anos, tal a força e o vigor que recuperavam com a mudança"(20) Nota do Autor. O exemplo mais ilustre desse empréstimo de vida forneceu-o o Padre Antônio Vieira, doente, que voltou ao Brasil em 1681, para morrer, mas viveu ainda 16 anos antes que tal acontecesse. Além desses valetudinários, muitos funcionários coloniais, comerciantes, e outros que tinham feito seu pé-de-meia, instalaram-se no Brasil, ali criaram família, embora muitos ainda voltassem para Portugal.
Não possuímos estatísticas adequadas no que se refere a essa corrente emigratória, mas dispomos de bastantes referências avulsas para provar que a maioria dos emigrantes para o Brasil vinham das províncias de Entre Minho e Douro, ao norte de Portugal, de Lisboa, e das ilhas atlânticas da Madeira e dos Açores. O Minho era a província melhor cultivada, mas com território insuficiente para manter a densa população fornecida por suas mulheres excepcionalmente fecundas. E várias ilhas do Atlântico possuíam, inevitavelmente, muitos habitantes mais do que poderiam manter de maneira adequada. Os emigrantes açorianos preferiam a região do Rio de Janeiro, onde sua predominância era bem marcada em 1630, mas faziam-se esforços, embora sem grande sucesso, para transplantar grupos de famílias camponesas das ilhas do Atlântico