São Vicente e as capitanias do Sul - As Origens (1501-1531)

Longo espaço teve de esperar antes da realização do anseio. Demorou até o princípio do século XVIII o momento de deitar garras no fulvo tesouro. Entrementes, progredia o resto da colônia graças ao surto açucareiro do Norte, que, no consenso de modernos economistas, foi mais frutuoso para Portugal que o resultado da façanha de Vasco da Gama ao chegar à índia. Renderam, assim, muito mais ao régio erário as várzeas nordestinas e baianas, e custaram muito menos que a aventura do Oriente, sorvedouro de vidas, espelho de enganos, ilusório dispensador de lucros, subordinada à incipiente navegação de vela transoceânica, longa, incerta, onerosa, dizimadora de populações, de mil maneiras nefasta a país desprovido de indústria e de comércio, indispensável para reter o produto de tão extenso sacrifício.

A falaz atividade, porém, da aventura descompassava mentes e ludibriava governos. A Índia, Cochinchina e regiões ainda mais distantes da Europa, tais a lendária Cipango e a Australásia, aparentemente ofereciam infinitas possibilidades comerciais. Dispunham dos gêneros chamados exóticos, procurados pelas regiões do norte do Mediterrâneo, em crescente surto econômico à medida que se adiantava a Renascença. O homem ibérico, recém-saído da ganga medieval, prolongada nas Espanhas além do registado em outros reinos da cristandade, arvorava-se em repentino fornecedor de mercadoria requerida por europeus mais evoluídos e exigentes no passadio. Apresentavam igualmente os povos orientais apreciáveis perspectivas de escoadouro para a produção da indústria europeia, que permitia evitar seguissem vazios os porões das naves enviadas à Índia e às Molucas. Contudo, atrás desse acervo de promessas, quanta dor, dano moral e material, perdas irreparáveis e mais desgraças, desabavam no ibero e

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