São Vicente e as capitanias do Sul - As Origens (1501-1531)

depois dele sobre outros habitantes da velha Europa, ao se espalhar a notícia de que passara às mãos de gente cristã a chave do comércio dantes na posse de muçulmanos.

No imenso escarcéu a sacudir os ocidentais, por estranho pareça, a provocar problema histórico hoje difícil de deslindar com a nossa mentalidade, intervinham, junto de planos econômicos, outros de ordem completamente diversa e de enorme importância nas diretrizes da nova política em formação no Ocidente. Nas resoluções de conquista mercante e territorial, fundiam-se Igreja e Coroa, ambas [as duas] movidas pelos que da fé se beneficiavam a pretexto de defendê-la. Escreve a respeito o escritor luso Mário de Albuquerque: "Os nossos soberanos ao mesmo tempo que legislavam sobre o assunto, encomendavam-se à autoridade de Roma. Por uma série de bulas os Pontífices reconheceram a nossa ação evangelizadora e os serviços em defesa da Cristandade, e difundiram o direito de Portugal sobre terras descobertas, e mesmo a descobrir, até a Índia inclusive."

Era o mesmo princípio das Cruzadas, com repercussões parecidas às que na Idade Média tornaram Veneza herdeira da atividade econômica desenvolvida pelos feitos dos guerreiros cristãos, ressurgidas com os portugueses na era das descobertas marítimas. Revivia o espírito de Pedro o Eremita com resultados inevitavelmente semelhantes, em que vemos começarem algaras inspiradas pela Guerra Santa; para terminar sob o signo do deus Mercúrio de pés alados e mãos ligeiras. Levantaram-se nesta ocasião impérios coloniais, cujas naus traziam a cruz de Cristo nas velas do tráfico da especiaria e da escravatura, gênese do colonialismo moderno, muito diverso da organização romana de que arvorava apenas o nome.

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