Sem dúvida, existia de há muito, desde a noite dos tempos, a lei do mais forte. Grandes impérios sempre se formaram pela mão da iniquidade. No caso, entretanto, presenciamos crença religiosa de ordem universal a prestigiar desígnios unicamente materiais. Assim impunham as circunstâncias, provocadas por encadeamento fatal, além da vontade dos homens, submetidas às analogias que teimosamente reaparecem na História.
Aqui temos de distinguir duas particularidades. Destinavam-se as bulas expedidas pelos Papas a favor das conquistas de portugueses, e, a seguir de espanhóis, à conversão de infiéis e idólatras. A autorização outorgada pelo chefe da cristandade prestava-se a toda sorte de deturpações a colidir com os princípios do credo. A intenção do Vigário de Cristo evidentemente não admita o deslize. O que almejava residia, principalmente, no combate ao espantoso rojo muçulmano que ameaçava submergir a Europa. Não cumpria no momento salvar apenas o evangelho, mas igualmente a sociedade cristã ameaçada de destruição. O perigo era apavorante, pior que outrora o dos hunos da Ásia ou sarracenos de Espanha, cada dia mais temeroso pelo poderio maometano ante uma Europa desunida. Não havia, pois, somente ambições de proselitismo na atitude da Santa Sé. Acima de tudo imperava o dever de congregar forças segundo o ditame "Ajuda-te que o Céu te ajudará", a fim de salvar a civilização do progressista Ocidente ameaçada pelo retrógrado fanatismo do Oriente.
Para termos uma ideia da diversidade mental dos dois adversários, atentaremos entre muitos casos ao destino da medicina. Como poderia evoluir sob crença que proibia reprodução gráfica do corpo humano? O mesmo sucedia no domínio da arte. Fácil conceber através destes exemplos, escolhidos ao acaso, o que