seria o triunfo maometano quando se encontrava no paroxismo religioso alavanca de irrupções guerreiras. As bulas a favor dos iberos não se destinavam, evidentemente, a proteger escopos comerciais, porém, a apoiar as frotas que deviam medir-se com infiéis, em quaisquer mares em defesa da cruz contra o crescente. Não recaía, portanto, sobre Roma a culpa de deturpações ocorridas pelos que do credo se aproveitavam.
Na epopeia da dominação do oceano, confundiam-se, em consequência de choques entre crenças, princípios religiosos e espírito de aventura. Não podemos, daí, separar tais reflexos da psique do descobridor das Américas, quando ele surgiu guiado pelo instinto predatório e cálculo interesseiro do europeu, presunçosamente por ele mesmo crismado Homo Aeconomicus. O vezo dantes confinado ao Velho Mundo, ia agora transbordar pelo Novo, de modo tão devorante, que ao se elevarem presídios na América Lusitana destinados a manter a posse del-Rei e invadir domínios alheios, não tardaram a sobrevir conflitos, por vezes irremediáveis, entre reinóis leigos utilitaristas e missionários imbuídos de idealismo.
Levara a Coroa muito contra a sua vontade duas facções inconciliáveis para os territórios recebidos de Alexandre VI, a fim de que fossem cristianizados e para todo sempre servissem a Igreja. De um lado, estavam povoadores brancos, sobre os quais era mister, pelo menos no começo da conquista, fechar os olhos acerca dos processos de que lançavam mão para se apossar da terra. De outro, o apóstolo das missões, que admitia a soberania del-Rei sobre territórios habitados por populações primitivas, pelo fato de assegurar o império da fé. Mas discordava da escravização do antigo dono pelo branco, e, acima de tudo, pela soltura que o transformava em polígamo muçulmano,