São Vicente e as capitanias do Sul - As Origens (1501-1531)

ascendiam a castas mais elevadas pelo trabalho bem sucedido ou obra do acaso, viam-se, por assim dizer, na obrigação de tornar ao reino geralmente a pretexto de educar os filhos. Em realidade, tornavam-se incompatíveis com a situação da colônia, pois todo indivíduo de posses logo arvorava pretensões nobiliárquicas e se supunha forçado a abandonar sítio tido por degredo. Muito menos passava pela mente dos descendentes dos primeiros donatários, e mais beneficiados com terras em ultramar, deixarem a metrópole para tratar pessoalmente do desenvolvimento do apanágio. Bastava-lhes administração de confiança in loco, cujas instruções eram cópia das expedidas pela Coroa a seus representantes coloniais, tendentes a promover o máximo de proventos com o mínimo de dispêndio.

A deformidade ficou de tal modo arraigada no europeu quando às voltas com assuntos coloniais, fosse grande ou pequeno, capaz ou incapaz, culto ou ignaro, inteligente ou obtuso, rico ou pobre, que, até depois da independência das antigas colônias americanas, ainda recusa admitir qualquer vantagem em qualquer terreno material ou intelectual por parte do antigo "colonizado". Sequer paridade tolera. Para o europeu de regiões das mais adiantadas como das mais atrasadas, todo indivíduo nascido na América será sempre a seus olhos novato em todas as coisas, motivo de o originário do Velho Mundo, ao desembarcar em o Novo, arvorar-se professor de tudo que sabe e, principalmente, do que não sabe.

O aspecto mais impressionante deste "colonialismo" mental, decorrente de rapina outrora exercida em fabulosa escala, reside na estranha dualidade ética do homem europeu do Ocidente, em que vemos crentes sinceros de religiões elevadas, fiéis súditos de monarcas defensores da fé cristã, exemplares chefes de família,

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