O vulto do homem que assim desapareceu do cenário colonial representa em nosso ver o feudal do tempo, com seus preconceitos, prejuízos, defeitos naturais ou ocasionais, e também as suas qualidades. Quiseram os fados de regiões novas que viesse a colidir na mesma esfera de ação o latifundiário com o missionário. Necessariamente um elemento econômico como Gabriel Soares, professava utilitarismo oposto aos desígnios da Companhia de Jesus, e ao invés de se completarem como soia a duas entidades igualmente interessadas no progresso da colônia, entravam em conflito inevitável. O primeiro se dedicara ao desenvolvimento de bens materiais em seu proveito, e indiretamente a benefício de governo e particulares no terreno econômico e político. O segundo era paladino de bens de outro gênero, morais e espirituais, que a todos abrangiam, inclusive ao índio desprezado e cobiçado pelo produtor. Sem braços abundantes um Gabriel Soares nada podia fazer, e ao alongar a vista pelas várzeas próprias à cultura da cana, deparava ao longe os fogos das aldeias jesuíticas, amparo de índios dóceis aos decuriões, embora sem proveito - pensava o senhor de engenho - para o desbravamento da região que transformaria o deserto em veigas fecundas. Ao passo que o leigo se impacientava, o religioso jogava com tempo a fim de não empecer a catequese, pouco se lhe dando o espaço decorrido, pois a Igreja é eterna. Tal placidez não convinha à sofreguidão dos imigrantes que viam naquele arrastar monótono, prejuízos irreparáveis, e se mostravam nos protestos e movimentos de classe apoiados pela solidariedade do povo e a dos governantes.
O embate trouxe atritos em que a pessoa de Gabriel Soares se revestiu de aspecto bem pouco simpático aos nossos olhos de geração situada entre duas